Esclarecimento: A história abaixo foi composta para o primeiro desafio entre meu grande amigo Dan Naka e eu. Como nós gostamos de escrever, achamos interessante a idéia de criar textos com temas diversos, com o propósito de nos divertir (enquanto escrevemos) e divertir vocês (enquanto lêem).
Tema: protagonista do texto é uma laranja falante.
Desafio 1 – A
história da laranja falante
Outono – Fazenda Quent - Celeiro
- Blark! Blark, onde você está?
- Aqui, pai!
- O que você está fazendo? Porque você está carregando esse
trator na mão?
- Ué, você não mandou trazer os tratores pra cá?
- Mandei, mas era pra vir dirigindo, e não carregando! E se
alguém te vir fazendo isso?
- Ah, pai, relaxa! Ninguém vem aqui nesse fim de mundo. E
mesmo que viesse, eu sou invulnerável, super-rápido e super-forte. Se alguém
tentar alguma coisa, eu arrebento com um peteleco!
- Bom, você faça como achar melhor. Tô cansado de apanhar
toda vez que você não concorda com alguma coisa. Ah, hoje é dia de colheita.
Passei na plantação e as laranjas estão prontas.
Você pode fazer isso?
- Ah, pai, que saco! Hoje tenho um encontro com a Louisa
Leine. Ela é a maior gata, e a gente tá saindo há quase dois meses! Acho que
hoje me dou bem!
- Mas, filho, você não é super-rápido e tal? Então faz a
colheita rapidinho... Nem vai te atrapalhar!
Blark considerou as possibilidades. Pensou em obrigar seu
pai a fazer a colheita ele mesmo, pensou em ir embora com Louisa pra uma cidade
maior e menos monótona, mas, por último, pensou em todas as mordomias que ia
perder... Comida boa, casa arrumada, roupa lavada...
- Tá bom, pai. Eu faço a colheita. De boa.
- Obrigado, filho. Pode colocar as laranjas direto no
container. Vou mandar direto pra Lou-Thor Sucos.
Um pouco antes de chegar à plantação dos Quent, havia um
espaço com muitas árvores silvestres. Como Blark estava com tempo, resolveu dar
uma relaxada.
Ao lado de um velho carvalho, começou a cavar. Em poucos
segundos, com sua super-velocidade, estava fora do buraco (que tinha uns 3
metros de profundidade) com uma caixa de chumbo nas mão.
Ao abri-la, seus olhos já brilhavam. Lá estava seu
equipamento especial de relaxamento: a seda, o triturador, e a canabis.
“Ah, Djimi, meu narcotraficante favorito!”
Djimi era um sul-africano que trabalhava como fotógrafo no
jornal da cidade, mas que trouxe de seu país de origem conhecimento em plantas transgênicas.
Você deve entender que um fotógrafo freelancer ganha muito
mal. Então Djimi precisou utilizar esse conhecimento para obter algum dinheiro
extra.
Como vocês devem imaginar, a maconha normal não fazia efeito
sobre Blark.
Então, Blark pediu que ele desenvolvesse uma variação de
canabis transgênica que desse barato. E para isso precisou revelar sua
vulnerabilidade. Precisou revelar sua fraqueza, a única coisa que, em grande
quantidade, poderia matá-lo: tomates.
Blark sofria muito com esta fraqueza. Não podia ir a restaurantes
italianos, não podia comer lasanha nem nenhum outro prato com tomates e, se
alguém chamava uma pizza, ele corria o risco de desmaiar só com o cheiro!
Mas, como todos os heróis (ele gostava de pensar que era um,
apesar de nunca ter salvo ninguém), ele encontrava maneiras de sobrepujar essa
dificuldade.
E enfim, seu amigo Djimi conseguiu usar essa informação para
fazer com que a canabis transgênica fizesse efeito em Blark. Na quantidade
certa, o tomate não fazia tão mal e o deixava suscetível aos efeitos do THC.
Antes da colheita na fazenda, Blark deu um “tapa”. Ficou ali
observando os pássaros, as flores, viajando...
Enquanto chegava mais perto da plantação de laranjas, ouviu
uma voz.
- Cauéu! Cauéu! – chamava a voz
- Quem está aí?
- Aqui em cima, Cauéu!
Blark olhou para cima e viu que a voz parecia vir de uma das
laranjeiras.
- Aqui onde? Não estou vendo.
- Aqui Cauéu.
- Nossa, eu devo ter exagerado no “bagulho”. Tem uma laranja
falando comigo!
Mas, enquanto Blark gargalhava, a voz insistia:
- Cauéu, Cauéu, pare de rir! Precisamos conversar.
- Hahahahahaha! Você é uma laranja mesmo? E porque tá me
chamando de Cauéu? Que doidera! Tô falando com uma laranja! Hahahahahahahaha.
- Em primeiro lugar, não sou uma laranja. Sou seu pai.
- O quê? Meu pai? Nossa, o Djimi deve ter errado nesse lote
de bagulho. Que viagem nervosa que eu tô!
- Cauéu, preste atenção! Meu nome é Jo-éu e sou seu pai
biológico. Não sou uma laranja, mas estou falando através dela.
Preste atenção meu filho. Você é o salvador desse mundo!
- Meu nome não é Cauéu, é Blark. Blark Quent. E seu nome é
Joel? Bom, não podia esperar muito de quem fala através de uma laranja...
- Não zombe seu pai, moleque! E não é Joel, é Jo-éu! Com
hífen, acento agudo e “u”. Seu nome de batismo é Cauéu! Eu preciso que você
entenda!
Blark deu um longo suspiro. Ia ter que conversar com Djimi
sobre aquele lote. Era melhor jogar tudo fora e fazer outro... “Bad trip” não
rola...
- Tá bom, dona laranja Jo-éu! Fala aí o que você tem pra
falar.
- Cauéu, você está destinado a salvar o mundo. A acabar com
a corrupção, com os crimes, a ser um herói, um exemplo pra humanidade! Você
deve...
Mas Blark não terminou de ouvir. Enquanto a laranja Jo-éu
pai biológico falava, ele pensava numa forma de acabar rápido com tudo aquilo.
E, num movimento rápido, Cauéu pegou a laranja, espremeu com
super-força e arremessou o que sobrou para muito longe.
Dez minutos mais tarde, Blark tinha terminado a colheita. Já
estava tudo no container, embalado para ser vendido.
Naquele dia ainda, ele se encontrou com Louisa Leine e
contou o que tinha acontecido.
- Mas, Blark, então ele queria que você salvasse o mundo?
Que viagem doida! Mas por falar em futuro, o que você planeja pra nós?
- Bom, com minha super-força e minha super-velocidade, só
tem uma coisa que posso fazer! Vou abrir uma empresa de demolição! A mais
rápida do mundo!
- Nossa Blark, que idéia genial!
- É mesmo, não é? Vou demolir construções e limpar tudo tão
rápido que não vai ter chance pra concorrência! E nós vamos poder ter a vida
que sempre sonhamos, juntos, ricos e felizes!
- Ah, Blark! Estou tão feliz!
Depois de terminar seus estudos, Blark foi para a cidade
grande com Louisa. Lá abriu sua tão sonhada empresa e ficou realmente rico.
Tiveram mais tarde um filho, chamado Conor Quent, que aos 10
anos apresentou complexo de super-herói.
E todos viveram felizes para sempre!
RGS
ANIMAL..... simplesmente incrível...
ResponderExcluirnunca que eu ia imaginar... gostei... tive idéias legais..kkk
bom desenvolvimento... narrativa...
kkkkk
valeu pelo desafio!!